Geração
sacrificada e esquecida (patriotismos á parte) sim,
pior que tudo negligenciada em apoio social e psicológico no trauma de guerra,
os veteranos de guerra no nosso país não são tratados com respeito, são gozados
pelas tatuagens, pela "loucura" e insanidade pelo ridículo, quantos
não terão caído na decadência do álcool por ser a droga que alivia a dor mais
há mão, quantos não terão perfis violentos, dada a experiência traumática,
quantos não tem ainda hoje pesadelos durante a noite, quantos não serão, ainda
hoje incapazes de expressar sentimentos entre amigos e família, mulher, filhos,
quantos não terão, regressado de apenas de corpo, ficando o espírito na terra
donde presenciaram a miséria e o sofrimento e foram forçados a cometer
atrocidades, a quantos lhe roubaram o seu verdadeiro sorriso, quantos estão associados
a um regime de ditadura e salazarista e por isso ignorados, porque é mais fácil
virar a cara ao lado e esquecer, quantos? Quantos, sim, quantos, foram
esquecidos como se pertencessem ao passado pré- Abril e não houvesse lugar para
eles no presente pós – Abril?
Afinal, é só gente
humilde, gente que não importa, soldados rasos, analfabetos, brutos,
alcoólicos, traumatizados, nada mais, afinal não são heróis, lutavam pela causa
errada, lutavam por Salazar, não por nós Portugal Moderno, Portugal da
Liberdade e dos brandos costumes, afinal eles não são nada, não são heróis de
guerra, não lutavam pela causa certa, não são heróis como os capitães de Abril!
Afinal não são nada, por isso mesmo merecem ser esquecidos?
Sou português e
identifico-me, pertencente a um povo, mas não sou amante sego da pátria, não
jurei sobre a bandeira, nem a defendo com sangue suor e lágrimas, custe o que
custar, porque os valores, que defendo e daria a vida por eles não são de um
País, são universais, são o amor, a família, o bem estar a liberdade a
igualdade e o estado justo e social, o direito a ser diferente a ter objetivos
e sonhar, o direito e o respeito pela integridade física e psicológica de
qualquer ser humano e por estes valores, sim vale a pena lutar e morrer todos
os dias, nem que seja contra o próprio país. Sim, vale a pena lutar com
palavras e mensagens e que creio mesmo não sendo herói desta batalha, faço hoje
aqui, a minha luta:
- Porquê a um
individuo, um qualquer politico, que passou, 3 ou 4 anos às vezes menos,
sentado no seu escritório a arruinar um país, mesmo que de boca e intenção
fosse salva-lo, não aconteceu, porquê eu sou da geração que é testemunho disso
mesmo, testemunhamos a troika, desemprego, crise, fraude e corrupção e a
geração mais bem preparada de sempre a abandonar o país como refugiados ou a
ficar e guerrear por condições precárias… Porquê então a este tipo que nunca
fez mais que comparecer na assembleia da república, ler o jornal, ir ao
facebook, dormir e praticar retorica, porquê entregar-lhe, pensões, vitalícias
de milhares de euros, direito a seguranças, chofer e viaturas do estado, pelo
“serviço que prestaram ao país” e a estes moribundos estes desgraçados
esquecidos, os da causa errada, deixamo-los sem pensões dignas sem um acompanhamento
adequado, sem um reconhecimento publico claro, abandonados a si mesmos a sorte
e aos seus, é mais fácil e mais barato esquecer?
Sou filho de um
ex-combatente e nunca entendi tão bem, o porquê? Porquê, “aquele homem, aquela
sombra e figura” é como é? Nunca me preocupei tentar compreender, ele também
nunca me tentou explicar, a guerra para ele é guardada no silêncio, exceto
quando há tiroteio do bom, daquele de Hollywood, na televisão. Não compreendia
nem me preocupava em compreender, até bem pouco tempo, por casualidade que
conheci outros ex-combatentes e me apercebi que era um padrão comum, um
“síndroma”, um vírus, uma doença todos com um epicentro comum, um paciente,
seja angola, guiné, moçambique, etc. o paciente zero é o mesmo, a guerra!
Sendo que agora
compreendo com base na comparação, sei que há quem esteja melhor e esteja pior
mas todos com um ferimento de guerra que nunca cicatrizou.
Talvez por isso, nós
nem lhes façamos caso ninguém quer ouvir nem saber, sobre a guerra do ultramar
pela 1ª pessoa, o que precisa, o que quer, o que pede, o que foi? Ninguém quer
dar caras e rostos á guerra, ninguém, os quer vivos, nem os seus problemas
presentes, porque a guerra está morta. É melhor documenta-la, na 3ª pessoa e
arquiva-la na historia do País, é preferível, do que aceitar que a guerra do
ultramar continua, no presente no coração, vida e desgraça destes homens.
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